UMA TURNÊ ACÚSTICA, SERIA POSSÍVEL?
Quando esticamos os olhares – ou melhor, ouvidos – para outros ares da classe artística musical, facilmente encontraremos produtos com um teor peculiar produzido fora da tangente do seu estilo ou gênero musical. Claro que, em sua maioria da classe independente, são vontades ou desejos particulares em criar algo fora do convencional, entretanto, muitos outros se tornam “obrigados” a dar a classe popular aquilo que ela mais almeja: ou seja, àquilo que se toca nas rádios e nos programas televisivos e se vende.
Alguns se moldam para o bem da música outros se moldam para a clave popular, fazendo disto um ponto perigoso diante da perversidade que a fuga da sua linha musical pode levar. Assim atualmente temos o denominado piseiro, e assim também tivemos a escola da Limão com Mel, cujo retrato foi o de ver núcleos românticos no forró terem um caráter integrador, um bloco para destacar as letras e as vozes, absorvida por inúmeras bandas de forró.
Outrora era impensável crer os instrumentos eletrônicos no forró, quiçá unificar o tradicional ritmo nordestino com coro sinfônico, orquestra sinfônica, ou grupo de cordas. A variação dentro do campo da própria obra do Forró Mastruz com Leite acompanha a banda ao longo dos seus 30 anos. Tem samba, tem reggae, tem rock, axé e frevo, tem vaneirão, tem chorinho e cancioneiro... o brilhantismo fica na sua produção no trato dessa mescla sonora sem comprometer o campo histórico-cultural por trás do ritmo.
No campo acústico, faz-se surgir brechas discutidas para determinar essa nomeação. A primeira é de que se deve ser composta apenas por instrumentos não eletrônicos, ordem facilmente identificada em todos os produtos da linha “Acústico MTV (ou Unplugged MTV). Mas e no forró? No caso da Mastruz com Leite temos dois discos categorizados como “acústico” (o 29º e o 34º da discografia oficial), porém, seria correto chamar forró sem instrumentos eletrônicos de acústico? Mas o forró – forró pé-de-serra – sempre não foi forró sem instrumentos elétricos? Absorvemos então que, um grupo de forró que faz um produto ou evento voltado sonoramente para o ritmo raiz, é caracterizado como acústico.
Além disso, também vimos as versões acústicas – não no sentido forró raiz – das canções “Razões” e “Barreiras” na gravação do primeiro DVD da banda mãe. Uma proposta a qual findou-se presente em discos como “Meu Alimento” com a já clássica “Sem Direção”, assim como a regravação de “Palavras do Coração” no disco “Arrocha o Nó II”. Vale aqui uma menção mais do que honrosa do trabalho do cantor Chico di Pessoa, cantando em voz e violão alguns sucessos da banda mãe e do trabalho da Imaginar com o seu “acústico” alto intitulado, onde cantores com passagem e atuais vocalistas puseram suas vozes neste que rendeu um disco virtual do Mastruz.
Conheça a obra videográfica do Forró Mastruz com Leite
Como foi citado anteriormente, existe uma linha tênue no linguajar artístico para produção de novos produtos: o que vai ser feito para agradar o seu público mais cativo e fiel, e aquele que é feito para a grande massa. A dificuldade vista é de manter-se um equilíbrio para tal, cuja a baixa mudança de repertório na banda mãe, por exemplo, geralmente até hoje cria-se falas entre os seus fãs como “... eu prefiro na época de...”, ou “...tal roupagem da canção era melhor antigamente”, dentre outros.
A produção do “Acústico Tempo Para Tudo” é mais clara que a luz do dia, pois foi um produto cujo mirou os seus seguidos mais cativos, mas a escolha de diversas canções deu a ele um equilíbrio popular para evitar perdas de ambos os lados. As canções inéditas e outras regravações não presentes na obra fonográfica da banda, estão mais para os fiéis seguidores da pioneira do forró eletrônico do que a já saturada, por exemplo, “Saga de um vaqueiro” focada na massa.
Notadamente o projeto Forró das Antigas tonou-se o carro chefe da classe do forró – ritmo que sofreu justamente com a junção errônea de aspectos musicais –, entretanto é preciso por à mesa a existência de fãs que cobram por mudanças e novas propostas, já que existe um imenso desgaste para os seguidores mais cativos de que necessitamos de algo novo.
Saiba mais sobre o Projeto Forró das Antigas
Como foi dito, esse último trabalho do Forró Mastruz com Leite é uma proposta a qual teve sua exploração em outra época, não por isso o iguala aos seus antecessores, já que para seus fãs trata-se de um material com aspectos novos potencialmente necessários a ser explorado, afinal, por que não incorporar esse modal nas vendagens de seus shows? Não pondo-me como alguém que tem contato com a classe contratante de artistas, mas sim como um fã inquieto e requerente de novos ares; o acústico – quer ele voltado para o segmento das cordas ou do forró tradicional – da pioneira do new forró tem força para além do que existe.
Abrir um asterisco para mencionar que este que escreve, está produzindo um projeto o qual vê possibilidades de engajamento fora do que acabou por ter no passado o presente vindouro.
A produção da banda tem a possibilidade de usar o “Acústico – Tempo Para Tudo” para vende-lo paralelamente aos shows do forró. Uma segunda carta na manga, de força para ser explorada e rodar se não o Nordeste, algumas outras capitais Brasil à fora. Porque não pensar que o Mastruz com Leite pode levar para diversas cidades, apresentando em teatros municipais, musical e cenograficamente, esse seu último trabalho? Ora, muitos poderão ver essa proposta como impraticável, até julgá-la por ilusória e utópica, mas assim era pensado em uma banda que tocasse exclusivamente forró no início da década de noventa, e que jamais faria sucesso e hoje chegamos aqui.
É visível no trabalho acústico do “Tempo Para Tudo” como uma linha palpável, de imagem agregadora para a atual frente de músicos, obtendo nesse projeto paralelo a oportunidade de mostrar à grande massa os tantos trabalhos inéditos (por exemplo, os singles gravados) feitos por essa fase atual da banda. Claro, sem a franca necessidade de romper com o cordão umbilical da história de três décadas construídas, todavia, também é necessário dar seguimento para que o grande público possa trocar os registros fotográficos da sua mente do que a Mastruz com Leite foi para o que é.
Não entrando no sentido econômico e nem em aspectos que se assemelham, e sim na ótica musical da produção do Mastruz com Leite, é interessante criar novas estratégias fora da zona de conforto, pois estamos sedentos de novidades. Porquanto, entendemos a separação (shows com “A praia”, “Meu vaqueiro meu peão”, “noite fria”, “na ponta do pé”... para o grande público e singles para o fãs iguais a nós), mas quando se enxerga algo assim, ou seja, mudanças, vemos a possibilidade conjunta de celebrar algo que precisa sair das telas e aprecia-la em cadeiras, bem como se estivéssemos nas pistas embebedando-nos nossos sentimos de fãs com algo novo.
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