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CRÍTICA – NA BOCA DO GOL

Mastruz com Leite

172 dias após o lançamento de sua última música de trabalho, o ótimo single “Balão de Cores” (Ferreira Filho/Rômullo Santa Ray) gravado na voz do cantor Gilly Araújo, foi disponibilizado o mais novo trabalho do Forró Mastruz com Leite em 2024, o single “Na Boca do Gol”. Como até agora não tivemos candidatos suficientes para a vaga de Crítico do nosso fã clube, eu mesmo irei fazê-la e espero superar as expectativas.



O novo single do forró Mastruz com Leite foi lançado agora no último dia 24 (quinta-feira) de outubro. Uma proposta ousada do compositor e produtor musical Ferreira Filho a quem contou com a participação luxuosa do grupo musical Porta Voz, regido pelo maestro Poty, responsável pelos arranjos vocais de mais de uma centena de discos lançados na SomZoom Studios.

Das problemáticas que às vezes citamos em nossas rodas de boleiro, falar dessa vez da parte do marketing proposto por parte da produção da banda foi algo que passou longe, cujo objetivo podemos considerar como alcançado. Falem bem ou falem mal, mas falem de mim. E assim ocorreu, pois através de pequenos vídeos divulgados no Instagram da banda – já que o Facebook e Twitter praticamente foram deixados à mingua – que fãs, seguidores casuais e perfis indutores da discórdia passaram a falar da banda mãe.

Com uma clara provocação iniciada por parte dos arranjos – e a ainda desconhecida parte letrista até antes do seu lançamento – somados à cantora Mara Rodrigues realizando o que contemporaneamente batizam de “dancinha de tik tok” (àquela rede social que seu algoritmo te conhecer com apenas cinco minutos de uso), comentários precoces negativos passaram a surgir. Já para os mais atentos, a ideia da chegada de um bom produto entre Ferreira Filho com o Maestro Poty, seria inconsequente levantar qualquer tipo de suspeita sem ter a música em mãos.

A verdade é que assim como foi o lançamento do disco “Na Contramão Como Preferencial”, Ferreira, Poty e cia vieram mostrar para a geração presente, onde o que se faz hoje, na verdade não há nada de novo. Independente da ferramenta a qual você atualmente tenha em suas mãos, acredite, aquilo não é original. Claro, musicalmente essa escala é mais abrangente, pois não é tirando um instrumento ou colocando um outro que isso fará com que seja algo novo, sendo essa sonoridade, por exemplo, presente desde o século XVIII nas obras de L. V. Beethoven (isso para não ir mais longe).

Com a liberação de “Na Boca do Gol” algumas certezas passaram a aparecer, não nos “Embalos de Um Sábado A Noite”, mas talvez em algo que remetesse lembranças à Motown Records, gravadora norte-americana mais importante da História com o estilo R&B e a sua maciça contribuição no jazz, blues, pop, rap, funk e também no soul. Sou um músico casual e pouco sei sobre música, entretanto àqueles arranjos vocais de “Na Boca do Gol” em cima da minha curiosidade de consumir música remeteu-me a tal questão. Dessa forma ao ouvir o pequeno trecho, lembrei-me do Twist, gênero musical que na verdade está mais para um estilo de vida. Música alegre, para cima e dançante da década de 60.

Com a liberação do single ficou claro para mim em si tratar de mais uma ousadia musical do Mastruz com Leite. De rap no disco “O Boi Zebu e as Formigas” (Rap Xote Do Mastruz), rock in roll (Rock do Sertão) no autointitulado “Rock do Sertão”, samba (Pra Gente Voltar) no disco “Tatuagem”, música do ventre (Alta Tensão) no trabalho “Meu Alimento"; reggae (Não Vá Embora) e country (Só Se Eu Fosse Louca) ambas no “Arrocha o Nó II”, apenas para citar algumas, agora “Na Boca do Gol” vem trazer ao forró o twist, ou como vi alguns descreverem, o “twistforró”.

De uma letra fácil de se absorver, esse novo trabalho do Mastruz com Leite surge também para coroar a categoria vocal da cantora Mara Rodrigues. Sem precisar daquela pasteurização a qual vem transformando qualquer um em cantor, Mara capricha nessa música inédita de características bem adequadas a sua personalidade artística.

Além de um belo arranjo vocal, os ouvintes percebem no sopro, nos teclados do Tiago Sena e no timbre da guitarra a familiaridade com o ritmo acima mencionado (Twist), claro, sem esquecer do jogo ritmado das palmas que congregam esse trabalho. “Na Boca do Gol” é um presente para os fãs, certamente ouvintes da música bem elaborada. Já para o público mais casual e menos atento as questões sonoras, ela não venha a ser tão celebrada. Assim, vale parafrasear Samuel Rosa, antigo integrante do Skank, onde para ele a forma atual de apreciar música tem ido no sentido inverso da coisa. Para ele “houve uma involução na forma de consumir música, como se a gente voltasse a comer com as mãos, abandonasse os talheres”.

“Na Boca do Gol” é algo único e que renova aquela sensação de que a música é para ser um instrumento disruptivo. Ela também nasce como uma espécie de barreira para você notar se realmente estamos conversando com quem gosta de música enquanto arte ou música comercial. Dando a chance de ouvi-la ao menos pela segunda vez, e se mesmo assim você receber uma devolutiva duvidosa e cheia de críticas vazias, acho melhor repensar com quem andas conversando sobre música. Infelizmente esse é um trabalho ao qual não será visto nos shows, pois infelizmente esse é um espaço ao qual o grande público tem a sua demanda atendida. Dessa forma é bom aprecia-la no seu ambiente de lazer.

A ideia era fazer um vídeo fazendo esse review sobre a música, mas vocês que trabalham com isso estão de parabéns, pois é algo muito trabalhoso e como tenho o fã clube como hobby, demanda tempo e astúcia. Isso é algo que vem faltando em minha vida particular. 

Música: Na Boca do Gol
Composição: Ferreira Filho
Voz: Mara Rodrigues
Participação: Grupo Porta Voz
Duração: 3’18

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