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Forró Das Antigas


Por algum momento você já se perguntou: Mas afinal, porque esse nome "Forró das Antigas"? Certamente a resposta de prontidão seria que és uma designação dada as bandas e artistas que possuem uma determinada carreira longínqua, e que vivem mediante seus sucessos vindo de outras épocas.

Não é um pensamento errôneo, porém para que tudo isso existisse é preciso entender que esse movimento foi criado como uma espécie de manifesto em favor desses artistas, os quais foram engolidos pelo forró apresentado na época da criação do Forró das Antigas.

Desde Luiz Gonzaga até o ano de 2009, face as suas peculiaridades, a música nordestina foi um espaço popular e dentro dele sempre coube à todos, fora que a corrente do bem, em estimular o crescimento do outro era sempre visível.

Quem é da época de 1990 pra cá (para não deixar o artigo muito longo) sabe que ao ir para um evento e se divertir ao som de seu artista favorito, também era um momento de conhecer amantes de outras bandas, e assim fazer novas amizade, além de torcer pelo sucesso do outro. Assim funciona o forró.

"É preciso evoluir, mas também é preciso nunca esquecer as nossas raízes, não é verdade!?" (Batista Lima)
Artista vem e artistas se vão, é assim que funciona o ciclo musical. Mas e a música, será que ela morre? Ao certo que não, falamos de uma das manifestações artísticas mais consumidas no planeta; quem no mundo que não gosta de ouvir uma música? A verdade é que chegamos em um momento onde a música enquanto comercial estava prevalecendo sobre a música enquanto forma de arte, e isto chegou ao nosso forró.

E assim na década de 2000 - antes de chegar no ano de 2009 - àqueles fãs que dividiam o seu artista com fãs de outros artistas começaram a conhecer o lado escuro empresarial, onde o dinheiro literalmente sobressalta aos olhos dos contratantes e dos donos de bandas de forró, e que a música acabará se tornando um papel descartado. Era a época do CD Promocional.


Música como "Minha Mulher Não Deixa Não" é um exemplo do que vinhamos no cenário forrozeiro. Saímos da concorrência por "Melhor Álbum de Forró", "Revelação do Forró", "Melhor Cantor e Melhor Cantora", "Melhor Ballet" dentre outras premiações que valorizavam o nosso ritmo nordestino, para as brigas judiciais por baladas temporais.


Nesse contexto musical o forró foi se deteriorando. O público mudou, e com ele os artistas apresentaram adequações para atender a esse novo nicho custe o que custasse. Músicas românticas perderam o seu sentido, o corpo de ballet foi substituído por outro formado apenas por mulheres com puro poder de sexy appel, a música de vaquejada fincou seus pés na bebedeira e traição, e o brilho do sanfoneiro ficou apagado pelos pés dos bateristas.

E como estavam as bandas e artistas do forró nesse momento? Na verdade, se sustentando onde podiam. Lançar músicas nas rádios se tornou impossível, pois a TV, por ter o maior monopólio das principais afiliadas ouvidas nas grandes capitais determinam o que se tocava. Aqui se ouve o que é do meu grupo, ou aquilo que se tenha o gancho do que se esculta atualmente.

Como bem disse anteriormente, a qualidade não era duvidosa, era ruim mesmo.

Lançar CDs era custo, DVDs mais ainda, e como você pode ver, muitos que fizeram isto, se comparar os produtos do mesmo artista nesse tipo de mídia, verá que o público não é mais o mesmo. Antes os fãs fiéis e o público que conhecia o trabalho abrilhantava o cenário, agora são buracos na arena, muita das vezes necessitando de um jogo de câmera e edição para que o DVD não aparente não ter ninguém ou uma platéia desanimada.

Independente da história que foi feita, todos estavam sofrente, e os fãs da Mastruz com Leite não ficaram de fora disto, tanto que a imagem ao lado retrata o descontentamento.

A banda mãe começou a modificar o seu repertório, fazendo um misto entre seus sucessos e as canções da época, e obviamente pelos seus fãs não houve nenhuma aceitação. O ápice veio quando Neto Rapariga (Neto Leite) retornou para pioneira do forró e ao lançar o seus segundo CD Promocional a banda lançou o single "CredPuta".

Vale um pequeno parágrafo para deixar evidenciado que o cantor não tem absoluta responsabilidade sobre isto.

No final cumpriu-se o ditado, onde a voz do povo é a voz de Deus, pois foi em 2009 que os fãs foram responsáveis pela criação da chave que voltou a dar uma luz para esses artistas que tiveram suas carreiras encerradas pela falta de espaço e a competitividade desleal - leia-se desleal pela não aceitação em fazer o tipo de forró que se tocava atualmente - ou pela frustração em ver o caminho que o verdadeiro ritmo nordestino estava tomando.

Leia aqui sobre a despedida dos palcos do Berg Rabelo

Assim, em um show na cidade de Recife no ano de 2009, Mastruz com Leite, Limão com Mel e Banda Magníficos faziam um show, e àqueles lá, àqueles fãs que falamos no início deste artigo, chamaram o tal encontro de Forró das Antigas, para diferenciar do outro forró da década. E a ideia, funcionou.

Bootleg Mastruz com Leite - Forró das Antigas 2009 no Kangalha
SomZoom, Luan Promoções - na época agenciadora de shows da Banda Magníficos -  e a Talismã uniram forças e começaram a rodar o Nordeste e consequentemente o Brasil com a turme "Forró das Antigas", e assim outras bandas começaram aos poucos a serem incorporadas no projeto. 

Sobrevivemos e estabelecemos um marco nesse retorno dos que nunca se foram. Disso fica a identificação negativa, pois muitos interpretam que os artistas enquadrados nesse projeto não fazem mais trabalhos novos; muito pelo contrário. A resposta são os trabalhos apresentados por diversos artistas do forró que voltaram a produzir o que sempre produziram, música enquanto arte. Outros, infelizmente, se moldaram ao modismo.

Fica um adendo para você aqui prestar mais atenção nesse movimento que agora é utilizado por artistas de outras vertentes musicais. Pagode, axé, samba, intitulam seus trabalhos mais recentes com uma identidade musical voltada para o resgate de seus grandes sucessos, ou como sempre dizem: algo "das antigas".

Nessa lista inclusive entram muitos dos que ajudaram a destruir o forró, ou você vai me dizer que estes usam o nome forró em seu nome nos dias atuais?

E acredite, o marketing é algo muito bem pré-estabelecido pelos empresários. É uma carta que fica no bolso e que bem usada trás você de volta para o mercado. O problema de tudo isso, é que (redundante, mas foi dito anteriormente) eles visam o lucro, e se juntam ao lado mais forte, e dessa vez, este lado é o da boa música. Assim, se faz o caso dos Cavaleiros do Forró que recentemente gravou um DVD bem peculiar, basta assisti-lo em seu canal oficial.



Neste último caso acima citado, compreende-se em boa parte; afinal, é memorável rever uma banda como está voltar a apresentar a sua devida digital (assim espero), diferentemente de outros que chamaram-nos de ultrapassados e hoje saboreiam desse momento, pois se não, o presente se torna o seu passado e a roda tende a girar.


Solange Almeida Fala Mal da Mastruz com Leite

Agora, remando mais uma vez para conquistar tudo aquilo que com muito suor foi vencido, temos o "Festival Forró das Antigas", este com premissa de sair da cidade de Fortaleza - e isso já está acontecendo - para o bom forró ter o alcance devido aos fãs de outras regiões e Estados. Depois de estruturar o Festival, de observar e analisar o sucesso do evento, o mesmo, agora em 2020, chegará à cidade de Recife e em Salvador (com a presença de Solange Almeida, olha só 👀).

Longe de enquadrar-me na postura vingativa ou em fazer parte da amplidão que se criou ao determinar que o novo forró (Forró de Plástico como classificou Chico César quando Secretário da Cultura da Paraíba) era o que se deveria ouvir, e fazer com que o "antigo" fosse deixado de lado, lembre-se: eu era um daqueles fãs que curtiam o bom som, independente de onde viesse. Porém, é sempre bom manter as atenções voltadas em cima de nossas ações do passado, e delas tirarmos lições para aprender e amadurecer até o fim das nossas vidas.

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Prova disto (ao meu ver) é que o José Alexandre da Silva Filho (conhecido como Xand Avião) foi o primeiro convidado para participar do DVD de 30 anos da Mastruz com Leite. Algo parecido como foi dito em relação a Cavaleiros do Forró? Talvez. É uma espécie de jogo de interesses ao qual não tenho capacidade de afirmar, vale a observação de como os negócios são tratados e como a arte no final será mostrada. Daí então, somente no dia da gravação e como o processo será feito na pós-produção. Até lá aguardemos.

Assim foi e é o Forró das Antigas, um manifesto criado pelos fãs que hoje resgatou o bom forró. Provando que a força da tradição e a boa música supera qualquer modismo. Seus ouvidos agradecem, os compositores agradecem, e a música descartável que nem a própria massa consegue mais consumir, se vai no vento como poeira.


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